segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A Farra do Leite em Pó


Os meninos contavam de dois anos, eu estava na cozinha preparando o jantar e me dividindo entre ver o que os dois faziam e me concentrar nas panelas.
            Passado alguns minutos , em que eu consegui finalizar o jantar, observei que estava quieto demais para ser verdade. Foi então que corri até a sala.
            A visão era inexplicável, os dois sentados, segurando a lata de leite em pó, revezando a colherada na boca. Havia leite em pó no sofá, no chão, na roupa deles.
            Quando eles me viram, sorriram.
            Consegui manter a calma, até fotografei, disse a eles que no futuro eu abriria um processo para que eles me ressarcissem.
            Não posso negar que fiquei muito brava, ainda mais quando se vai limpar a sujeira e ao entrar em contato com qualquer líquido, o leite em pó vira uma pasta.

            Passado o desespero que uma arte desse porte provoca em qualquer mãe, hoje vemos as fotos, relembramos do ocorrido com bastante humor.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Crônicas de três Sapecas_O Singular de Cores



Os meninos estavam pintando. Eu comecei a dizer as cores para que eles mostrassem os gizes correspondentes.
Os cumprimentei por acertarem a maioria das cores, me afastei e os deixei livres para voltar a pintar.
O Diego virou para o Eduardo e perguntou:
-Dudu que “core” é essa?
-Marrom.
-Agora eu vou pegar uma outra “core” pra ver se você acerta...
Perguntei para eles:
-O que é “core”?
O Diego explicou que na caixa haviam muitas cores, eles estavam pegando apenas uma “core” para aprender os nomes delas.
Esse é um dos momentos na vida que dá vontade de deixar a criança falando de acordo com o sentido que a palavra tem para ela.

Texto: Shirlei Pio
Ilustração: Sandra Pio


quarta-feira, 13 de julho de 2016

O que é Povo?



Enquanto eu preparava o café da manhã, o Duzinho, o Di e a Nanda assistiam televisão. Num determinado instante tocou o trecho de uma música da Ivete Sangalo que dizia:

“O povo do gueto mandou avisar”.
O Duzinho perguntou:
- Mãe, o que é povo?
Respondi da cozinha:
-São pessoas.
-Ah! Tá! Obrigado.
O Diego perguntou em seguida:
-Dudu, o que é povo?
Eu ouvi a resposta cheia de certeza:
-São pessoas ou criaturas, como queira Diego.
-Ah! Tá! Obrigado Dudu.

Beijei muito todo esse povo.

sábado, 28 de maio de 2016

Meu Sincero Pedido de Desculpa aos Adultos

Texto na integra publicado na Intranet 23/05/2016 ( site da Secretaria do Estado da Educação):

Por anos me debati com a inquietação e as artes que meus filhos faziam, em especial os gêmeos.
Me lembro de ter sido chamada na escola os primeiros 35 dias da vida escolar deles, na entrada e saída. Não foi fácil.
Eles aprontavam na natação, no taekwondo, na escola, na casa das pessoas, ou seja onde quer que eles estivessem, ali estaria à confusão. Mas uma coisa eu afirmava em defesa deles, nas suas atitudes não havia maldade, mas travessuras das mais criativas possíveis.
Na verdade o que me incomodava muito, eram os olhares e a censura das pessoas, algumas diziam: 
-Isso porque a mãe é professora...
Em alguns momentos cheguei até acreditar nessas pessoas todas adultas, claro. Elas não poupavam saliva e nem tempo para me aconselhar e listar os meus erros como mãe. Assim permaneceu por cinco anos.
Foi a partir de uma conversa com um desconhecido garotinho de 4 anos, que comecei a compreender a real situação da minha família. Enquanto brincávamos com bloquinhos de montar, conversávamos sobre nosso objetivo de construir um prédio gigante, cuja finalidade seria a demolição. Assim seguiu a brincadeira, rimos muito com o desmoronamento das pecinhas do brinquedo.
Espontaneamente ele começou a descrever sua mãe, como uma mulher maravilhosa, mãe do bem, que o protege e defende.
Fiquei encantada com aquela descrição da mãe pelo olhar daquela criança, insisto de 4 anos.
Foi quando agi como um legítimo adulto e perguntei:
-E eu, você acha que sou uma mãe do bem?
Ele me olhou com muita atenção e disse:
-Não.
Me preocupei, porque na minha visão limitada de adulto, eu só deslumbrava duas possibilidades, ou ser do bem, ou ser do mal. Logo se eu  não era do bem...ele teria de se explicar. Afinal ele nem me conhecia, o que o teria levado a pensar que eu era do mal?
A criança me olhou fixamente e disse:
-Você é uma mãe arteira, daquelas que fazem bastante bagunça.
Sem maiores explicações se levantou e me convidou para brincar de lutinha, com certeza umas das brincadeiras preferidas dos meus filhos, pois a lutinha sempre termina em cócegas e beijos.
Saí de lá num estado de reflexão tão profundo, alcançado talvez só na terapia. Dormi, acordei, fui trabalhar, mas continuava a pensar...para então concluir.
Como é que uma mãe arteira e bagunceira, quer filhos que não sejam arteiros e nem bagunceiros?
Seria o mesmo que esperar que uma laranjeira desse como fruto abacaxi.
Sim, somos uma família de arteiros e bagunceiros. Adoramos brincar de lutinha para acabar em cócegas e beijos. Dizer uns aos outros “EU TE AMO”.
Sinceramente , não vejo isso como um problema.

Os adultos que nos desculpem!

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Mãe

Deus como pai amoroso, estava muito preocupado com os seus filhos. 
Ele teria de enviá-los a Terra, mas não queria abrir mão da sua paternidade.
Não queria deixar de cuidar de seus filhos, mas estando em planos diferentes 
ele temia a possibilidade de seus filhos se desviarem.
Foi então que ele teve a idéia, convocou um exército de Anjos e lhes convidou 
para a missão de cuidarem pessoalmente de seus filhos na Terra.
A missão foi aceita, e o destemido exército composto por espíritos capazes de 
renunciar a tudo, pelo zelo dedicado aos filhos de Deus, prossegue entre nós até a atualidade e passam despercebidos pela maioria da humanidade. 
Esses Anjos atendem pelo nome de MÃE.

Texto: Shirlei Pio
Ilustração: Tania Martins

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A Primeira Amamentação Dupla

Um dia antes de ir à maternidade para ter os meninos, me ocorreu uma dúvida: “Como é que se amamenta gêmeos?”
Já era perto da meia noite, apelei para internet. Vi algumas possibilidades, a coisa não seria tão simples, mas enfim...Comentei com o Eduardo sobre a minha dúvida, ele muito seguro respondeu: “que isso não deveria ser motivo para preocupação.”
Passada a ansiedade do parto, graças a Deus , os meninos nasceram bem, saudáveis e ambos com mais de três quilos, o que significava levá-los para casa, assim que eu tivesse alta.
Em determinado momento a enfermeira entrou no quarto para levar os meninos para primeira mamada. O Eduardo , como pai muito participativo, disse a enfermeira que estava tudo sob controle, afinal já tínhamos uma filha. A enfermeira nos deixou.
O Eduardo me trouxe o bebê 1, que era o Eduardo, para mamar primeiro, voltou até o bebê 2, que era o Diego, e lhe explicou :
“Você mamará em segundo, porque você nasceu em segundo. Tenha paciência, que seu irmão terminando é sua vez.”
Passado alguns minutos, o Diego começou a resmungar, passou para o choro até chegar aos berros. O Eduardo pai, o pegou no colo e o balançava, lembrando-o que ele deveria esperar sua vez, até o momento que os berros do bebê ficaram insuportáveis.
O Eduardo se aproximou de mim e perguntou:
“Como é mesmo que a internet sugere que se amamente gêmeos????”

No mesmo dia o Eduardo já havia providenciado um encosto duplo, como sugeria a internet.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Destino Certo


Atendendo a recomendações médicas, a pessoa caminhava pela praça, localizada na grande cidade.  Era visível a contrariedade que habitava seu interior,  aquela obrigação de exercitar o corpo significava perda de tempo para sua mente tão ocupada.
O que a pessoa não podia supor era que por trás da exigência médica,  o destino lhe reservava um encontro. Mas a princípio a caminhada se tornou um peso carregado pela sensação de obrigação.  
Passados muitos dias, a vida lhe trazia mais um dia de sol, aliás mais um lindo dia de sol,cujos raios tocavam a face da pessoa, proporcionando-lhe pela primeira vez a sensação de um beijo cheio de amor. 
O vento, que até ontem a incomodava tanto, naquele dia soprava tão suave que recebeu o nome de brisa,  envolvendo seu corpo causando um frescor confortante,  tal qual um abraço afetuoso. Olhava com admiração para o céu azul, que até então lhe servia apenas de teto.  Mais abaixo reparou na coloração variada das folhas das árvores que se mexiam incansáveis, como num aceno especial daqueles que se dá apenas a alguém que se ama,  mas que se entende que o sujeito deve partir. 
Apesar não conseguir visualizar os donos das vozes,  o cântico dos pássaros chegava- lhe aos ouvidos como melodia jamais ouvida na terra. 
Aquele conjunto de sensações causou grande estranheza a pessoa. Era a primeira vez, em muito tempo,  que a sensação de obrigação não era sentida,  pelo contrário o bem estar ia além dos cuidados com o corpo impostos,  naquele momento sentia uma paz interior a tal ponto de não conter as lágrimas que lavavam seus olhos. 
Foi então que caminhando na praça,  a pessoa associou o beijo sentido através do sol; o abraço trazido pela brisa;  o aceno dado pelas folhas das árvores;  a melodia do canto dos pássaros,  eram na verdade manifestações do amor e representavam as marcas do encontro que se tem com Deus diariamente. 
Retornando ao médico a pessoa agradecia a imposição do médico de se exercitar,  relatou ao doutor que tal prática lhe ajudou a exercitar também a mente e o coração , até imobilizados até mais que o próprio corpo. Sem dúvida a caminhada se tornou uma ponte que conduzia aquela pessoa diariamente até Deus.



 Texto: Shirlei Pio
Ilustração: Tania Martins