segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Mundo Retangular de Otávio

O mundo é redondo! No entanto para Otávio o mundo era retangular.
As pessoas comentavam:
-Ele é um menino das cavernas.
Pois eu afirmo, ou melhor nego:
-Não! Com certeza ele mora em um apartamento.
Outro dizia:
-Ele tem problemas.
Eu respondo:
- Problemas? Quem não os tem?
Mais um opinava:
-Esse menino é louco?
Eu encerro o assunto dizendo:
-Louco? É! Também acredito que Otávio seja louco...
Esclareço definitivamente, Otávio é um menino que mora em um apartamento, que tem problemas como todo mundo e que é louco por televisão.
Toda manhã ele acorda apressado com o toque do celular despertando, escova os dentes, toma café bem rápido para não se atrasar para o seu importante compromisso: assistir televisão. Só depois ele toma banho, almoça com muito desânimo e veste-se para enfrentar mais uma batalha dolorosa: ir à escola.
Para o menino as aulas são em preto e branco, além delas não terem cor, são sem graça e os movimentos são em câmera lenta.
Depois da escola a diversão fica por conta do vídeo - game.
Assim é a vida de Otávio, enxergar a vida pela televisão, sem se mexer.
As pessoas continuavam a comentar:
“É uma pobre criança, vive trancada num apartamento.” outro dizia:“ As outras crianças até tentam brincar com ele, mas antes mesmo que se consiga dizer qual é a brincadeira do dia , Otávio já diz:  Nãããooooo!”
A história de Otávio poderia terminar aqui, se não fosse por uma manhã que tinha tudo para ser igual a todas as outras. Porém enquanto assistia televisão, ela simplesmente apagou extremamente curioso o garoto se aproximou para descobrir o que havia acontecido, quando ele percebeu lá estava ele, dentro da televisão, como que por encanto, vivendo dentro do mundo retangular.
A primeira vista parecia o lugar perfeito para um menino louco por televisão. Só que agora lá dentro, ele assistia a vida do mundo redondo: crianças brincando, o vento soprando, o sol aquecendo, era a primeira vez que prestava atenção no colorido do céu, das flores, observava as pessoas conversando e a alegria de umas dizendo a outras o quanto se amavam...
Em sua cabeça as aulas de matemática de repente começaram a fazer sentido, pois calculava o tempo perdido, bem como as coisas que deixou de fazer, agora lá estava ele prisioneiro do único mundo no qual ele quis conhecer.
Otávio se lamentou:
-Ah! Se eu tivesse outra chance, com certeza faria tudo diferente!
Só agora ele entendia que a televisão é divertida, mas que o fazer deveria ser muito mais divertido do que viver vendo.
Quando o menino passou do lamento ao choro, o celular despertou, Otávio acordou muito assustado.
Aquele sonho foi muito forte, mas a chance que ele tanto queria estava ali, era uma nova manhã e sua primeira decisão foi chamar os outros meninos para brincar.
Desse dia em diante ficou muito difícil contar a história de Otávio, pois a cada manhã que se passa ele descobre mais um prazer daqueles de quem vive no mundo redondo. 

Texto utilizado em ATPC e publicado pelo site da Diretoria de Ensino Leste 4 e Diretoria de Ensino Presidente Prudente.


domingo, 24 de janeiro de 2016

Crônicas de Três Sapecas Levados da Breca

Olá Galera! Estou iniciando o meu Blog. 
Aqui eu vou dividir com vocês as minhas histórias!
O primeiro texto que vou publicar faz parte da série "Crônicas de três Sapecas levados da Breca"

Introdução


Estas histórias reais vieram ao meu encontro junto com a doce função da maternidade. Nossa família foi presenteada em primeiro lugar com a presença da Fernanda (nossa Nanda) em 2007. Em 2010 fomos presenteados duplamente com os gêmeos Eduardo e Diego (nossos Duzinho e Di).

Sempre trabalhei como professora iniciando a carreira pela educação infantil, passando rapidamente pelos Anos Iniciais, posteriormente me firmando profissionalmente como professora de Língua Portuguesa dos Anos Finais.
A paixão pela leitura e posteriormente pela escrita, me são velhas companheiras. Tendo acontecido a 1ª publicação em 2005, também no gênero literatura infantil. E as publicações mais recentes, em 2015. Dentre elas, Crônicas em sites de Educação e dois E-books.
Acredito que seja na infância que nos tornamos leitores, talvez seja essa crença que me faça “viajar” no mundo da imaginação, onde tudo é possível. Quando a história é boa, ela simplesmente é boa agradando de 0 a 100 anos.
Mas que fique bem claro, as histórias que se seguirão não são ficção, assim como esses três sapecas, nos quais tenho o prazer de chama-los de filhos. 
Seja você leitor muito bem vindo ao nosso cotidiano familiar.

DE PERNAS PARA O AR

Voltei a trabalhar quando a Fernanda completou 10 meses de idade, não foi nada fácil. Porém tinha a consciência de que deveria continuar a viver, e um dos primeiros passos seria retomar minha atividade profissional.
Num dia em que sai para trabalhar, ela já estava com 1 ano e alguns meses, ela pintava em seu quarto e ao mesmo tempo jogava tudo o que estava em cima da mesa no chão.Olhei para ela e mais uma vez disse: “filha não é assim que se faz. Não quero nada espalhado pelo chão, quando eu voltar, a primeira coisa que farei é olhar como você deixou suas coisas.” Ela simplesmente me olhou e não disse nada.
Baseada em minha experiência como educadora fui trabalhar pensativa e dizia a mim mesma “não posso me esquecer de chegar em casa e como prometido verificar o quarto, até então só da Fernanda.” Pois é necessário que o que se diz a criança, se cumpra, seja na escola ou em casa.
Chegando em casa a primeira coisa que fiz foi me dirigir ao quarto acompanhada pela Fernanda, quando abri a porta fui surpreendida com uma cena inesperada. Então perguntei: “filha o que a mamãe te pediu antes de ir trabalhar?” Ela me encarou com seus lindos olhos claros e me disse: ”que você não queria nada no chão. Olha bem mamãe não tem nada no chão está tudo na mesa.”
Realmente estava tudo na mesa, que estava de cabeça para baixo com as pernas para o ar.

CUIDADO COM A FRIAGEM


A Fernanda estava com muita tosse, dor de garganta, febre, enfim coisas que toda criança tem. Antes de dormir passamos uma pomada para aquecer a sua garganta e ao mesmo tempo aliviar as vias aéreas. E a orientei: “meu amor caso você precise sair da cama, não ande descalça, pois você não pode pegar friagem por conta da pomada. Entendeu? Nada de colocar “os pés no chão”!” Simplesmente com um gesto afirmou ter entendido o apelo.
Passado alguns minutos começou vir do quarto um ruído estranho, mais do que depressa nos adiantamos até lá. Quando abrimos a porta, ela estava rastejando no chão. 
Imediatamente a pegamos no colo e aflitos perguntamos: “o que aconteceu? Você caiu, não está bem?”
Ela nos respondeu: “não é nada disso. Estou bem.” Tornamos a perguntar: “então por que você estava se rastejando no chão?”
Ela nos olhou com uma expressão de quem não estava acreditando no que estava ouvindo e disse: “vocês pediram para eu não andar com “os pés no chão”, eu queria fazer xixi e estava indo ao banheiro sem colocar os pés no chão.”
É bom pensar bem no sentido que as palavras podem ter para a criança.