segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A Farra do Leite em Pó


Os meninos contavam de dois anos, eu estava na cozinha preparando o jantar e me dividindo entre ver o que os dois faziam e me concentrar nas panelas.
            Passado alguns minutos , em que eu consegui finalizar o jantar, observei que estava quieto demais para ser verdade. Foi então que corri até a sala.
            A visão era inexplicável, os dois sentados, segurando a lata de leite em pó, revezando a colherada na boca. Havia leite em pó no sofá, no chão, na roupa deles.
            Quando eles me viram, sorriram.
            Consegui manter a calma, até fotografei, disse a eles que no futuro eu abriria um processo para que eles me ressarcissem.
            Não posso negar que fiquei muito brava, ainda mais quando se vai limpar a sujeira e ao entrar em contato com qualquer líquido, o leite em pó vira uma pasta.

            Passado o desespero que uma arte desse porte provoca em qualquer mãe, hoje vemos as fotos, relembramos do ocorrido com bastante humor.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Crônicas de três Sapecas_O Singular de Cores



Os meninos estavam pintando. Eu comecei a dizer as cores para que eles mostrassem os gizes correspondentes.
Os cumprimentei por acertarem a maioria das cores, me afastei e os deixei livres para voltar a pintar.
O Diego virou para o Eduardo e perguntou:
-Dudu que “core” é essa?
-Marrom.
-Agora eu vou pegar uma outra “core” pra ver se você acerta...
Perguntei para eles:
-O que é “core”?
O Diego explicou que na caixa haviam muitas cores, eles estavam pegando apenas uma “core” para aprender os nomes delas.
Esse é um dos momentos na vida que dá vontade de deixar a criança falando de acordo com o sentido que a palavra tem para ela.

Texto: Shirlei Pio
Ilustração: Sandra Pio


quarta-feira, 13 de julho de 2016

O que é Povo?



Enquanto eu preparava o café da manhã, o Duzinho, o Di e a Nanda assistiam televisão. Num determinado instante tocou o trecho de uma música da Ivete Sangalo que dizia:

“O povo do gueto mandou avisar”.
O Duzinho perguntou:
- Mãe, o que é povo?
Respondi da cozinha:
-São pessoas.
-Ah! Tá! Obrigado.
O Diego perguntou em seguida:
-Dudu, o que é povo?
Eu ouvi a resposta cheia de certeza:
-São pessoas ou criaturas, como queira Diego.
-Ah! Tá! Obrigado Dudu.

Beijei muito todo esse povo.

sábado, 28 de maio de 2016

Meu Sincero Pedido de Desculpa aos Adultos

Texto na integra publicado na Intranet 23/05/2016 ( site da Secretaria do Estado da Educação):

Por anos me debati com a inquietação e as artes que meus filhos faziam, em especial os gêmeos.
Me lembro de ter sido chamada na escola os primeiros 35 dias da vida escolar deles, na entrada e saída. Não foi fácil.
Eles aprontavam na natação, no taekwondo, na escola, na casa das pessoas, ou seja onde quer que eles estivessem, ali estaria à confusão. Mas uma coisa eu afirmava em defesa deles, nas suas atitudes não havia maldade, mas travessuras das mais criativas possíveis.
Na verdade o que me incomodava muito, eram os olhares e a censura das pessoas, algumas diziam: 
-Isso porque a mãe é professora...
Em alguns momentos cheguei até acreditar nessas pessoas todas adultas, claro. Elas não poupavam saliva e nem tempo para me aconselhar e listar os meus erros como mãe. Assim permaneceu por cinco anos.
Foi a partir de uma conversa com um desconhecido garotinho de 4 anos, que comecei a compreender a real situação da minha família. Enquanto brincávamos com bloquinhos de montar, conversávamos sobre nosso objetivo de construir um prédio gigante, cuja finalidade seria a demolição. Assim seguiu a brincadeira, rimos muito com o desmoronamento das pecinhas do brinquedo.
Espontaneamente ele começou a descrever sua mãe, como uma mulher maravilhosa, mãe do bem, que o protege e defende.
Fiquei encantada com aquela descrição da mãe pelo olhar daquela criança, insisto de 4 anos.
Foi quando agi como um legítimo adulto e perguntei:
-E eu, você acha que sou uma mãe do bem?
Ele me olhou com muita atenção e disse:
-Não.
Me preocupei, porque na minha visão limitada de adulto, eu só deslumbrava duas possibilidades, ou ser do bem, ou ser do mal. Logo se eu  não era do bem...ele teria de se explicar. Afinal ele nem me conhecia, o que o teria levado a pensar que eu era do mal?
A criança me olhou fixamente e disse:
-Você é uma mãe arteira, daquelas que fazem bastante bagunça.
Sem maiores explicações se levantou e me convidou para brincar de lutinha, com certeza umas das brincadeiras preferidas dos meus filhos, pois a lutinha sempre termina em cócegas e beijos.
Saí de lá num estado de reflexão tão profundo, alcançado talvez só na terapia. Dormi, acordei, fui trabalhar, mas continuava a pensar...para então concluir.
Como é que uma mãe arteira e bagunceira, quer filhos que não sejam arteiros e nem bagunceiros?
Seria o mesmo que esperar que uma laranjeira desse como fruto abacaxi.
Sim, somos uma família de arteiros e bagunceiros. Adoramos brincar de lutinha para acabar em cócegas e beijos. Dizer uns aos outros “EU TE AMO”.
Sinceramente , não vejo isso como um problema.

Os adultos que nos desculpem!

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Mãe

Deus como pai amoroso, estava muito preocupado com os seus filhos. 
Ele teria de enviá-los a Terra, mas não queria abrir mão da sua paternidade.
Não queria deixar de cuidar de seus filhos, mas estando em planos diferentes 
ele temia a possibilidade de seus filhos se desviarem.
Foi então que ele teve a idéia, convocou um exército de Anjos e lhes convidou 
para a missão de cuidarem pessoalmente de seus filhos na Terra.
A missão foi aceita, e o destemido exército composto por espíritos capazes de 
renunciar a tudo, pelo zelo dedicado aos filhos de Deus, prossegue entre nós até a atualidade e passam despercebidos pela maioria da humanidade. 
Esses Anjos atendem pelo nome de MÃE.

Texto: Shirlei Pio
Ilustração: Tania Martins

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A Primeira Amamentação Dupla

Um dia antes de ir à maternidade para ter os meninos, me ocorreu uma dúvida: “Como é que se amamenta gêmeos?”
Já era perto da meia noite, apelei para internet. Vi algumas possibilidades, a coisa não seria tão simples, mas enfim...Comentei com o Eduardo sobre a minha dúvida, ele muito seguro respondeu: “que isso não deveria ser motivo para preocupação.”
Passada a ansiedade do parto, graças a Deus , os meninos nasceram bem, saudáveis e ambos com mais de três quilos, o que significava levá-los para casa, assim que eu tivesse alta.
Em determinado momento a enfermeira entrou no quarto para levar os meninos para primeira mamada. O Eduardo , como pai muito participativo, disse a enfermeira que estava tudo sob controle, afinal já tínhamos uma filha. A enfermeira nos deixou.
O Eduardo me trouxe o bebê 1, que era o Eduardo, para mamar primeiro, voltou até o bebê 2, que era o Diego, e lhe explicou :
“Você mamará em segundo, porque você nasceu em segundo. Tenha paciência, que seu irmão terminando é sua vez.”
Passado alguns minutos, o Diego começou a resmungar, passou para o choro até chegar aos berros. O Eduardo pai, o pegou no colo e o balançava, lembrando-o que ele deveria esperar sua vez, até o momento que os berros do bebê ficaram insuportáveis.
O Eduardo se aproximou de mim e perguntou:
“Como é mesmo que a internet sugere que se amamente gêmeos????”

No mesmo dia o Eduardo já havia providenciado um encosto duplo, como sugeria a internet.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Destino Certo


Atendendo a recomendações médicas, a pessoa caminhava pela praça, localizada na grande cidade.  Era visível a contrariedade que habitava seu interior,  aquela obrigação de exercitar o corpo significava perda de tempo para sua mente tão ocupada.
O que a pessoa não podia supor era que por trás da exigência médica,  o destino lhe reservava um encontro. Mas a princípio a caminhada se tornou um peso carregado pela sensação de obrigação.  
Passados muitos dias, a vida lhe trazia mais um dia de sol, aliás mais um lindo dia de sol,cujos raios tocavam a face da pessoa, proporcionando-lhe pela primeira vez a sensação de um beijo cheio de amor. 
O vento, que até ontem a incomodava tanto, naquele dia soprava tão suave que recebeu o nome de brisa,  envolvendo seu corpo causando um frescor confortante,  tal qual um abraço afetuoso. Olhava com admiração para o céu azul, que até então lhe servia apenas de teto.  Mais abaixo reparou na coloração variada das folhas das árvores que se mexiam incansáveis, como num aceno especial daqueles que se dá apenas a alguém que se ama,  mas que se entende que o sujeito deve partir. 
Apesar não conseguir visualizar os donos das vozes,  o cântico dos pássaros chegava- lhe aos ouvidos como melodia jamais ouvida na terra. 
Aquele conjunto de sensações causou grande estranheza a pessoa. Era a primeira vez, em muito tempo,  que a sensação de obrigação não era sentida,  pelo contrário o bem estar ia além dos cuidados com o corpo impostos,  naquele momento sentia uma paz interior a tal ponto de não conter as lágrimas que lavavam seus olhos. 
Foi então que caminhando na praça,  a pessoa associou o beijo sentido através do sol; o abraço trazido pela brisa;  o aceno dado pelas folhas das árvores;  a melodia do canto dos pássaros,  eram na verdade manifestações do amor e representavam as marcas do encontro que se tem com Deus diariamente. 
Retornando ao médico a pessoa agradecia a imposição do médico de se exercitar,  relatou ao doutor que tal prática lhe ajudou a exercitar também a mente e o coração , até imobilizados até mais que o próprio corpo. Sem dúvida a caminhada se tornou uma ponte que conduzia aquela pessoa diariamente até Deus.



 Texto: Shirlei Pio
Ilustração: Tania Martins

Crônicas de Três Sapecas Levados da Breca

Na Saída Do Shopping


A vida poderia ser simples como num texto, em que dias e até mesmo décadas passam em instantes.
A questão foi que naquele mesmo dia em que o Pica-Pau interpretou o desejo de ir ao shopping e a tristeza da Fernanda conosco.Nossa estada no shopping não foi das mais tranquilas. A menina passou parte do tempo emburrada, brava comigo e com o Eduardo.
Li certa vez num livro de psicologia que a chegada de um irmão para criança, pode ser comparada a chegada de uma amante para a esposa. Essa ideia já me causava bastante solidariedade para com as crianças, transferindo tal comparação para realidade da minha família, me causava piedade, imagina duas amantes de uma vez?!
Já estávamos saindo, enquanto o Eduardo acertava o cartão do estacionamento. A porta de vidro se abriu e a Fernanda correu em direção à rua. Não tive dúvidas, disparei a correr e consegui alcançá-la próxima à calçada. A envolvi num abraço e em beijos lavados de lágrimas. 
Com certeza as lágrimas foram de emoção por te conseguido protegê-la, mas vinha potencializada pela dor dos pontos abertos da cesárea de cinco dias.


segunda-feira, 14 de março de 2016

Eu, elas e nós ou Acerca da solidariedade de gênero


É com prazer que eu apresento o trabalho da minha eterna Professora e amiga Eliana Ribeiro. Nos conhecemos em 2000 no curso de Letras, eu na condição de aluna, ela minha professora. Foi instantânea a empatia, me lembro exatamente do meu pensamento: "quero ser competente assim." Para mim as suas aulas não se resumiam apenas em conteúdo, era a formação de uma identidade profissional que se completava ali. Sou grata ao destino que me presenteou por anos  de convivência com essa excelente profissional, e como se já não fosse o suficiente ,que se tornou uma grande amiga da família. Seja bem vinda, querida! Amigos leitores, apreciem!


Eu, elas e nós ou Acerca da solidariedade de gênero


Não falo para agradar ouvidos vaidosos, tampouco escrevo para envaidecer egos carentes. E ao acordar hoje com o chamado do dever de escrever para esta revista, foi inevitável não pensar num tema que circundasse o universo da mulher. Entrei em trabalho de parto; sim, cada texto é prenhe das ideias que em mim remexem. Diante de um tema tão oceânico, pensei no que oriento meus alunos fazerem diante da imperiosa necessidade de escrever: é preciso delimitar o tema. Senti outra forte contração. Falo de mim, delas ou de nós? Na verdade, passei a dialogar com algumas delas para tentar resolver esse impasse, e aí chega Simone De Beauvoir me lembrando  que escrever é desvendar o mundo. Taí: escrever nos permite abrir o mundo para dele dizer o que a nossa sensibilidade captura. Decidi, portanto, por um recorte que me permite desvendar as relações sociais entre nós mulheres.
O tema da redação do último ENEM versou acerca da violência contra a mulher, e na ocasião pensei, e acho que até escrevi , sobre algo que trago agora à tona: a violência contra a mulher pelas próprias mulheres, a violência silenciosa que deixa visível a ausência de solidariedade de gênero. Somos nós mulheres quem sabemos, melhor que os homens, o significado e o sentido de sermos mulheres, com tudo o que nos configura como tal: o corpo, a sensibilidade, as exigências, as expectativas, a cultura introjectada, etc etc. Se não nos solidarizamos umas com as outras, dificilmente, em nível de escala social mais ampla, eles os homens o serão; portanto sinto-me igualmente agredida quando identifico a violência silenciosa, essa fere tanto quanto a física.
É fato que circula com engenhosidade e insistência uma forma de violência afirmada e propagada pelas mídias em geral e pelas redes sociais, instagran e facebook, em particular, na medida em que determinado padrão de beleza é imposto como a matriz a ser seguida e legitimada. Disto decorre minha preocupação com o andamento do processo dito civilizatório. Para aonde caminhamos? Penso no tão pretendido progresso. Mito ou verdade? Quem tem acesso a todo o desenvolvimento científico e tecnológico que a modernidade vê existir?  Desta violência somos todos alvo: mulheres, homens, crianças, fauna e flora – territórios e atores sociais e naturais.
Mas, insisto na reflexão sobre a violência perpetrada sobre mulheres por mulheres. Ainda me causa perplexidade e indignação acompanhar a produção de relações tão sutilmente nocivas na construção do nosso cotidiano. Das práticas mais singelas às mais cuidadosamente elaboradas. Dias desses ao entrar no banheiro do shopping, dirigi-me apressadamente ao sanitário pois estava apertada para um xixi, quando topei com uma moça que saía. Entrei, usei o sanitário e na hora que busquei o papel higiênico, cadê? Não havia. Melhor dizendo, já havia acabado, até talvez antes mesmo de a moça antes de mim entrar; não importa. Em solidariedade, ela deveria ter-me avisado que não havia papel. Ao sair, avisei a funcionária da limpeza e pedi que fizesse a gentileza de abastecer. Outro dia, atravessando a faixa de pedestre, deparei-me com um carro que avançava em minha direção, como o carro não conseguiu avançar muito na preferencial porque o tráfego começou a se avolumar, ainda tive tempo de apressar o passo, atravessar a faixa, virar para trás e chamar, pasmem, a moça a uma reflexão sobre sua atitude. As ilustrações são as mais variadas.
A ausência de solidariedade de gênero é seguida da ausência da étnica que é seguida da
ausência da humana. A fórmula da degenerescência do processo seria: humana>étnica>gênero. Essa fórmula é responsável, no limite pela produção da violência expressa pelos diferentes tipos de preconceitos: racial, econômico, de gênero, e o mais moderno, o preconceito estético.
Na sociedade do espetáculo em que vivemos, corroborada pela publicização da imagem, em escala vertiginosa, este moderno tipo de preconceito mostra-se altamente potente para a deflagração de um tipo de violência que silenciosamente vai sendo produzida e introjectada nos espaços virtuais e assentada nos espaços reais. Observem-se, por exemplo, a postagem das fotos dos eventos “ditos” importantes, em que a sustentação da imagem de prestígio e ascensão social se fazem vitais para manutenção do “lugar ao sol”. Chama-se a atenção para a ideia contida na palavra postagem, não para a palavra fotos. Sim, porque o que vale é o arranjo que se poderá fazer.  O foco sai do o que o evento é e volta-se para o que as pessoas retratadas parecem ser. Olhemos!!!!
É para esta consciência da construção social da realidade, da qual nós mulheres também fazemos parte ditando comportamentos e atitudes, que este texto procura chamar a atenção. O reforço para um mundo construído e plasmado pelo modo do parecer em detrimento ao modo do, efetivamente, ser vem se intensificando ferozmente. E, à medida em que alguns e algumas, dentre os/as quais faço parte, rejeitam este “modelo”, vão sendo alijados/as do tal processo “civilizatório”.
Como se já não bastasse sermos, nós mulheres, agredidas física e/ou simbolicamente pelos homens, vamos vendo ampliar-se o arsenal de práticas e atitudes que desvelam a mesma violência ser executada por mulheres. Como se não bastasse a ausência cada vez mais crescente de solidariedade humana, nos deparamos recorrentemente com a ausência de solidariedade de gênero.  Alguns questionamentos sobrevêm à mente quando a leitura de tudo isto salta. O que exacerba em nós mulheres para que nos comportemos dessa maneira com as outras companheiras, se, relativamente, no espaço em que nos movemos, também podemos ser alvo de violência simbólica? A quem queremos  de fato agredir quando nos comportamos dessa forma esquecendo-nos de que também podemos ser vistas com menor importância no espaço da vida privada? O que nos distancia das outras mulheres e faz com que não nos sensibilizemos com as “dores”  que nos são comuns.
A galeria de questionamentos segue para várias direções; contudo, nosso sentido e otimismo crítico acerca da temática apontam para a inevitável e imperiosa necessidade de olharmos para trás a fim de enxergarmos com mais nitidez o que está a nossa frente: nossas antepassadas, de todas as classes, etnias e padrões estéticos, lutaram muito para que alcançássemos socialmente o espaço que temos; portanto nossa força não pode se limitar à individualidade, mas espraiar-se para o coletivo. Taí: escrevo para desvendar o mundo e, no mundo em que me movo, chamar à consciência e reflexão tantas outras. Um brinde: para que nunca nos esqueçamos das mulheres que, juntas, aprendemos a ser.

Eliana Ribeiro

sábado, 5 de março de 2016

Crônicas de Três Sapecas Levados da Breca

                            Pica-Pau, o Intérprete



Depois da chegada do Eduardo e do Diego (gêmeos), a Fernanda ficou sem conversar comigo por uma semana.
Por mais que eu me esforçasse, ela não me olhava nos olhos. Foram dias difíceis...em meio a toda aquela nova situação.
Um dia, enquanto eu amamentava os meninos, ela apareceu na porta do quarto, segurando um boneco do Pica-Pau e dizendo:
- Oi Shirlei! Você sabia que a Fernanda está muito triste com você?
-Por que Pica-Pau? O que eu fiz para ela ficar triste?
-Desde que você chegou com esses bebês não levou mais a Fernanda ao shopping.
-Por favor Pica-Pau, diga a ela que se esse é o problema, resolveremos hoje mesmo. Deixaremos os meninos com a vovó e passearemos só o papai, a mamãe e a Nanda no shopping como sempre. Ah! Pica-Pau, aproveita e conta para ela que o amor que a mamãe sente por ela a cada dia que passa só aumenta . 
Ela sorriu e voltou a conversar comigo.

São Paulo Precisa Parar

Nesta Semana, tenho a satisfação de compartilhar um texto muito interessante, publicado e narrado pela Rádio CBN, de Cláudia Elisabete da Silva, minha amiga e respeitada Professora de História. Apreciem!
Às sete horas anunciei que estava para chegar, mas minha mãe não entendeu que meu dia havia chegado. Às sete horas os trabalhadores já estavam na luta, de trem, de ônibus, sonhando nos “enlatados” com o metrô em construção que, um dia, iria encurtar as distâncias para todos – ou para alguns privilegiados lá da zona sul. Só o tempo diria, já que até hoje o metrô não atende a toda a cidade. Meu pai e nosso tio já haviam saído para seus respectivos empregos. Minha mãe, no entanto, não quis incomodar ninguém, e ficou ali, sofrendo sozinha, achando que eu poderia esperar mais um pouco. A coisa foi ficando apertada e em pouco tempo não foi mais possível segurar. Ela chamou minha tia, que morava no mesmo terreno, na casa da frente. A tia, recém-chegada na Paulicéia, não sabia nem por onde começar.

“Um táxi, tia, chame um táxi lá na Itinguçu”, minha mãe pedia. Morando na Vila Ré, cujas ruas ainda estavam sendo asfaltadas, essa era a única forma de tentar chegar a um hospital em tempo suficiente para que eu não viesse ao mundo no meio da rua, em meio a essa gente apressada, correndo para o que der e vier, como diria a canção de tom entusiástico e em ritmo acelerado – “vambora, vambora, olha a hora”…

São Paulo não podia parar: este era o mote lá no início da década de 1970, quando vi a luz, só por volta das cinco da tarde – na hora do “rush”, da volta para a casa, tinha que ser! O hospital ficava na Avenida Celso Garcia, a alguns metros do Parque São Jorge – o destino já estava traçado: mais uma corintiana na face da Terra!

Aprendi a ler antes de frequentar a escola, decifrando os outdoors do corredor Radial Leste-23 de Maio-Rubem Berta, que percorríamos semanalmente, eu, minha mãe e meu pai, para visitarmos os parentes no Jabaquara. Tentamos morar nesse bairro em 1979, mas não aguentamos mais do que nove meses, por causa do barulho dos aviões que decolavam e aterrissavam em Congonhas. Voltamos para a zona leste, onde construímos nossas vidas ali, na região da Penha, um dos bairros mais antigos da capital, antigo lugar de peregrinação à igreja do século XVII que abrigava a santa padroeira da cidade. A Penha era o centro comercial para toda aquela gente que, quando era preciso “ir à cidade” (o Centro Velho), dependia exclusivamente dos ônibus que seguiam, demoradamente, pelas avenidas Amador Bueno da Veiga, Celso Garcia e Rangel Pestana.

Nos anos 1980 veio o metrô, que facilitou a vida dos trabalhadores e estudantes da região. Fui fazer o 2º grau no Tatuapé, e foi então que a cidade começou a se descortinar diante dos meus olhos.  Centro velho, República, Anhangabau, 24 de Maio e Barão de Itapetininga, com suas livrarias e lojas de discos, as galerias Barão e “do Rock”, os cinemas, as lojas de pedras brasileiras, os prédios da virada do século XIX para o XX.

Entrei na USP para estudar História e venho testemunhando da janela do ônibus as transformações da rua Augusta ao longo dos últimos 20 anos; trabalhei no Museu Paulista (vulgo Museu do Ipiranga), onde pisei pela primeira vez ainda criança, levada pelo meu pai; fiz alguns freelances na região da Santa Cecília, Higienópolis, Perdizes e Lapa. Pesquisei nas bibliotecas da São Francisco, na Mário de Andrade, nos arquivos Municipal e do Estado, e tornei-me uma professora absolutamente apaixonada por São Paulo e sua história. Hoje, e já há alguns anos, tenho a sensação de que São Paulo precisa parar de crescer, para que a verdadeira cidadania seja conquistada por todos. Apesar de tudo, posso dizer que não saberia viver noutro lugar.

SP/460 Anos
Texto: Cláudia Elisabete da Silva

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Um Amor Quase Impossível

É com prazer que abro esse espaço no meu blog para publicação de amigos e outros autores. 
Inicio esse espaço com a publicação de uma autora mirim muito especial 
para mim, Fernada Pio Fernades.


Era uma  vez dois reinos, um rico e outro pobre. No reino rico existia uma princesa  e no outro  reino existia um príncipe e o nome deles era Luci e Boé. Um dia era o aniversário da princesa.  Estavam preparando as coisas, quando a princesa estava descendo as escadas ouviu seu pai, sua mãe e outras pessoas do outro reino que ela tinha que se casar com Boé. Ela subiu rapidamente as escadas tristemente e trancou a porta do quarto. 
No dia seguinte, era o aniversário dela. Mas só faltava encher os balões de coração. A Princesa chegou para encher um pouco dos balões quando conheceu Carlos. Eles conversaram quase o dia inteiro, então foram dançar valsa, quando acabou Luci ficou triste, porque queria um dia ver Carlos de novo. Num outro dia Luci estava caminhando triste quando viu Carlos, foi como um sonho. Depois desse dia, eles se encontraram várias vezes secretamente. 
Até o dia em que Boé descobriu  e contou para o Rei. Mas o Rei nem ligou e falou: 
-Saia daqui!
O Rei achou que era  mentira de Boé. Assim ele foi embora, mas não desistiu, foi atrás de Carlos. Ele procurou pela Vila toda, mas não achou. Já era de noite, então Boé foi dormir.
No dia seguinte, Boé continuou a procurar. Quando achou Carlos, Boé correu para o castelo e avisou o Rei que passou a acreditar, e disse:
-Cortem a cabeça de Carlos!
A Luci ficou tão triste que chegou a desmaiar. Boé ficou preocupado e Carlos ficou mais preocupado ainda. Mas Carlos se entregou, porque ele tinha um plano...
Quando foram cortar a cabeça de Carlos, ele escapou colocando um melão no lugar de sua cabeça. Em seguida, pegou a Princesa e correu para casa. A Luci ficou feliz e Boé ficou bravo e disse:
-Eu vou matar Carlos!
Luci ficou muito feliz ao lado de Carlos, eles se beijaram e conseguiram escapar. Carlos adorou ficar um tempo com a Luci. 
Eles já estavam dormindo, quando Boé apareceu. Ele pensou que a Princesa ficaria feliz ao vê-lo, mas na verdade ela ficou triste, porque quem a fazia feliz era Carlos, ela o amava. Por isso, assim que pode , a Princesa foi atrás de Carlos de novo. Carlos pediu Luci em casamento que aceitou e disse:
-Amo você demais! 
Enquanto os dois se beijava, Boé chegou e feriu Carlos que, apesar do susto, não morreu. Mas se tornou prisioneiro de Boé. A Luci não quis se casar com Boé.
O tempo passou, o Rei e a Rainha morrerão e a Luci tinha que escolher um Rei. Claro, ela escolheu Carlos, que por ordem de Luci, a nova Rainha, foi liberto. Eles se casaram. Carlos disse:
-Eu amo você Luci. 
Em seguida dançaram a valsa. Depois namoraram. Com o tempo tiveram filhos. E para que eles pudessem viver felizes para sempre Luci mandou prender Boé, para que nunca mais ele atrapalhasse a sua felicidade.

Texto e Ilustração: Fernanda Pio Fernandes



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Crônicas de Três Sapecas Levados da Breca

Quando os meus Primos vão embora?
Chegamos da maternidade com os gêmeos nos braços,  a Fernanda em casa com 3 anos. Tudo era novidade para nós três.
Colocamos os bebês no carrinho, na sala, enquanto a Nanda assistia televisão. Não demorou e a choradeira dupla começou.
Nos revezávamos para atender as necessidades dos meninos, enquanto a Nanda aumentava o volume da televisão, para continuar ouvindo o desenho que estava assistindo, até então tranquilamente.
Num determinado momento quando a televisão já estava no volume máximo, ela nos olhou incomodada e perguntou:
- Quando é que os meus primos vão embora?
-Filha, eles são seus irmãos e vieram para ficar.
Essa situação foi só o começo de uma série de outras histórias.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Crônicas de Três Sapecas Levados da Breca_Gravidez dos Gêmeos


ELA SEMPRE SOUBE!

Era finalzinho de dezembro, recebemos a novidade com entusiasmo, estávamos grávidos! Depois da mamãe e do papai, a Nanda com 2 anos e 9 meses foi a primeira a receber a notícia.

-Filha, você ganhará um irmãozinho ou irmãzinha. Mamãe está grávida.
-Eu sei!
Nos olhamos com certa surpresa e dissemos:
-Sabe? Que bom! Você acha que será um menino ou uma menina?
Pensativa ela respondeu: -Eu só sei que serão dois bebês, mas não sei se serão meninos ou meninas, ou um de cada... 
Eu a olhei bem nos olhos e disse:
-Filha , só para você entender, seres humanos não tem um monte de filhinhos igual aos bichinhos. Pode até acontecer, mas é muito difícil! Então nós teremos um único bebê.
Seus olhos lacrimejaram e ela desatou a chorar, muito brava! Eu pensei:” mas já está com ciúmes?! Que rápido! “
Tratei de pegá-la no colo e perguntei : 
-Por que você está chorando?
Sentida ela respondeu:
-Vocês não acreditam em mim. Eu sei que são dois bebês!
No momento me restou abraçá-la. Dias depois descobri que ela sempre soube mesmo...de fato o ultrassom confirmou serem gêmeos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

As Fadas


De acordo com a lenda, as Fadas são antigas 
habitantes do planeta Terra, elas coexistem com 
a humanidade desde o princípio do homem.
 Dentre as suas funções para o equilíbrio da vida 
estão: o destino do homem; a realização das ambições 
mais profundas e cortar o fio da vida quando 
chega à morte. Porém, quando o equilíbrio do Planeta 
está ameaçado diante  do caos da natureza, provocado 
pelas atitudes dos homens, e a existência da humanidade 
é colocada em risco de extinção. O mundo vive um 
momento tão delicado, cujo desejo mais ambicioso 
das pessoas passa a ser a própria existência. 
As Fadas assumem mais uma responsabilidade : 
a de tocar o coração do homem, para que cada um 
se reconheça como responsável pela 
sua capacidade de escolha.

Texto: Shirlei Pio

Ilustração: Tania Martins

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Crônicas de Três Sapecas Levados da Breca_ "No Mercado"

Entramos no mercado com a Fernanda, ela ficou admirada com a quantidade de prateleiras e produtos.
Enquanto andávamos pelos corredores colocando no carrinho o que precisávamos, a Nanda continuava com aquele olhar surpreso.
A conduzimos até o corredor dos doces e dissemos:
-Escolha o que quiser.
Ela continuava a olhar e andar, saindo do corredor dos doces, ela toda contente anunciou:
-Achei!- e toda contente pegou um pacote de linguiça calabresa e outro de macarrão.
Com bastante estranheza perguntei:
-Filha tem certeza que você não quer um doce?
-Tenho mamãe, adoro macarrão com linguiça.
Acredito que ela só não pegou os brócolis porque não viu.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Mundo Retangular de Otávio

O mundo é redondo! No entanto para Otávio o mundo era retangular.
As pessoas comentavam:
-Ele é um menino das cavernas.
Pois eu afirmo, ou melhor nego:
-Não! Com certeza ele mora em um apartamento.
Outro dizia:
-Ele tem problemas.
Eu respondo:
- Problemas? Quem não os tem?
Mais um opinava:
-Esse menino é louco?
Eu encerro o assunto dizendo:
-Louco? É! Também acredito que Otávio seja louco...
Esclareço definitivamente, Otávio é um menino que mora em um apartamento, que tem problemas como todo mundo e que é louco por televisão.
Toda manhã ele acorda apressado com o toque do celular despertando, escova os dentes, toma café bem rápido para não se atrasar para o seu importante compromisso: assistir televisão. Só depois ele toma banho, almoça com muito desânimo e veste-se para enfrentar mais uma batalha dolorosa: ir à escola.
Para o menino as aulas são em preto e branco, além delas não terem cor, são sem graça e os movimentos são em câmera lenta.
Depois da escola a diversão fica por conta do vídeo - game.
Assim é a vida de Otávio, enxergar a vida pela televisão, sem se mexer.
As pessoas continuavam a comentar:
“É uma pobre criança, vive trancada num apartamento.” outro dizia:“ As outras crianças até tentam brincar com ele, mas antes mesmo que se consiga dizer qual é a brincadeira do dia , Otávio já diz:  Nãããooooo!”
A história de Otávio poderia terminar aqui, se não fosse por uma manhã que tinha tudo para ser igual a todas as outras. Porém enquanto assistia televisão, ela simplesmente apagou extremamente curioso o garoto se aproximou para descobrir o que havia acontecido, quando ele percebeu lá estava ele, dentro da televisão, como que por encanto, vivendo dentro do mundo retangular.
A primeira vista parecia o lugar perfeito para um menino louco por televisão. Só que agora lá dentro, ele assistia a vida do mundo redondo: crianças brincando, o vento soprando, o sol aquecendo, era a primeira vez que prestava atenção no colorido do céu, das flores, observava as pessoas conversando e a alegria de umas dizendo a outras o quanto se amavam...
Em sua cabeça as aulas de matemática de repente começaram a fazer sentido, pois calculava o tempo perdido, bem como as coisas que deixou de fazer, agora lá estava ele prisioneiro do único mundo no qual ele quis conhecer.
Otávio se lamentou:
-Ah! Se eu tivesse outra chance, com certeza faria tudo diferente!
Só agora ele entendia que a televisão é divertida, mas que o fazer deveria ser muito mais divertido do que viver vendo.
Quando o menino passou do lamento ao choro, o celular despertou, Otávio acordou muito assustado.
Aquele sonho foi muito forte, mas a chance que ele tanto queria estava ali, era uma nova manhã e sua primeira decisão foi chamar os outros meninos para brincar.
Desse dia em diante ficou muito difícil contar a história de Otávio, pois a cada manhã que se passa ele descobre mais um prazer daqueles de quem vive no mundo redondo. 

Texto utilizado em ATPC e publicado pelo site da Diretoria de Ensino Leste 4 e Diretoria de Ensino Presidente Prudente.


domingo, 24 de janeiro de 2016

Crônicas de Três Sapecas Levados da Breca

Olá Galera! Estou iniciando o meu Blog. 
Aqui eu vou dividir com vocês as minhas histórias!
O primeiro texto que vou publicar faz parte da série "Crônicas de três Sapecas levados da Breca"

Introdução


Estas histórias reais vieram ao meu encontro junto com a doce função da maternidade. Nossa família foi presenteada em primeiro lugar com a presença da Fernanda (nossa Nanda) em 2007. Em 2010 fomos presenteados duplamente com os gêmeos Eduardo e Diego (nossos Duzinho e Di).

Sempre trabalhei como professora iniciando a carreira pela educação infantil, passando rapidamente pelos Anos Iniciais, posteriormente me firmando profissionalmente como professora de Língua Portuguesa dos Anos Finais.
A paixão pela leitura e posteriormente pela escrita, me são velhas companheiras. Tendo acontecido a 1ª publicação em 2005, também no gênero literatura infantil. E as publicações mais recentes, em 2015. Dentre elas, Crônicas em sites de Educação e dois E-books.
Acredito que seja na infância que nos tornamos leitores, talvez seja essa crença que me faça “viajar” no mundo da imaginação, onde tudo é possível. Quando a história é boa, ela simplesmente é boa agradando de 0 a 100 anos.
Mas que fique bem claro, as histórias que se seguirão não são ficção, assim como esses três sapecas, nos quais tenho o prazer de chama-los de filhos. 
Seja você leitor muito bem vindo ao nosso cotidiano familiar.

DE PERNAS PARA O AR

Voltei a trabalhar quando a Fernanda completou 10 meses de idade, não foi nada fácil. Porém tinha a consciência de que deveria continuar a viver, e um dos primeiros passos seria retomar minha atividade profissional.
Num dia em que sai para trabalhar, ela já estava com 1 ano e alguns meses, ela pintava em seu quarto e ao mesmo tempo jogava tudo o que estava em cima da mesa no chão.Olhei para ela e mais uma vez disse: “filha não é assim que se faz. Não quero nada espalhado pelo chão, quando eu voltar, a primeira coisa que farei é olhar como você deixou suas coisas.” Ela simplesmente me olhou e não disse nada.
Baseada em minha experiência como educadora fui trabalhar pensativa e dizia a mim mesma “não posso me esquecer de chegar em casa e como prometido verificar o quarto, até então só da Fernanda.” Pois é necessário que o que se diz a criança, se cumpra, seja na escola ou em casa.
Chegando em casa a primeira coisa que fiz foi me dirigir ao quarto acompanhada pela Fernanda, quando abri a porta fui surpreendida com uma cena inesperada. Então perguntei: “filha o que a mamãe te pediu antes de ir trabalhar?” Ela me encarou com seus lindos olhos claros e me disse: ”que você não queria nada no chão. Olha bem mamãe não tem nada no chão está tudo na mesa.”
Realmente estava tudo na mesa, que estava de cabeça para baixo com as pernas para o ar.

CUIDADO COM A FRIAGEM


A Fernanda estava com muita tosse, dor de garganta, febre, enfim coisas que toda criança tem. Antes de dormir passamos uma pomada para aquecer a sua garganta e ao mesmo tempo aliviar as vias aéreas. E a orientei: “meu amor caso você precise sair da cama, não ande descalça, pois você não pode pegar friagem por conta da pomada. Entendeu? Nada de colocar “os pés no chão”!” Simplesmente com um gesto afirmou ter entendido o apelo.
Passado alguns minutos começou vir do quarto um ruído estranho, mais do que depressa nos adiantamos até lá. Quando abrimos a porta, ela estava rastejando no chão. 
Imediatamente a pegamos no colo e aflitos perguntamos: “o que aconteceu? Você caiu, não está bem?”
Ela nos respondeu: “não é nada disso. Estou bem.” Tornamos a perguntar: “então por que você estava se rastejando no chão?”
Ela nos olhou com uma expressão de quem não estava acreditando no que estava ouvindo e disse: “vocês pediram para eu não andar com “os pés no chão”, eu queria fazer xixi e estava indo ao banheiro sem colocar os pés no chão.”
É bom pensar bem no sentido que as palavras podem ter para a criança.